
Sem dúvida que o primeiro critério subjacente à análise deste período de Jesus no Benfica é, como não podia deixar de ser, os resultados. E nomeadamente, em relação a anos anteriores, principalmente quando falamos no campeonato nacional. Em relação ao ano passado, curiosamente, não há evolução: repetimos o 1º lugar à 14ª jornada. Com uma diferença: temos 33 pontos contra os 29 de 2008/09, ou seja, menos dois empates. E, comparando desde a época do último título – 2004/05 – os “ganhos” são ainda mais significativos: mais 5 pontos que em 2007/08 (Camacho), mais 4 pontos que em 2006/07 (Fernando Santos), mais 8 pontos em relação a 2005/06 (Koeman) e 2004/05 (Trapattoni). Para encontrar iguais registos aos desta temporada temos de recuar até 1996/97, ano em que Autouri treinou os encarnados e também 1993/94, época de boa memória, com o 30º título do Benfica, conquistado por Toni. De resto, nos últimos 20 anos, só Eriksson em 1990/91 – campeão - fez melhor, com 37 pontos em 14 jogos. Em suma é positivo neste campo o trabalho do nosso técnico.
Continuando no ambito dos resultados desportivos, importa referir que nas provas europeias, na Liga Europa (sucedeu à Taça UEFA) este ano o Benfica venceu por 6 vezes e perdeu 2, em contraponto a 2008/09, em que venceu apenas por uma vez, empatou um jogo e perdeu os restantes 4, uma prestação vergonhosa que este ano foi felizmente rectificada, recuperando até o estatuto de grande equipa europeia, ou pelo menos, uma equipa a ter em conta nesta prova.
O ponto negativo vai este ano para a Taça de Portugal: o Benfica caiu na 4ª eliminatória da prova, perdendo em casa contra o Vitória de Guimarães enquanto que no ano transacto a despedida desta competição foi no terreno do Leixões, nos oitavos-de-final. A não repetir no futuro este resultado, que esperemos que tenha sido um percalço de uma equipa que este ano tem dados motivos de orgulho aos benfiquistas.
De um modo geral, os resultados indicam que há diferenças quando se joga na Catedral ou longe dele: em casa, o Benfica venceu 12 vezes em 14 jogos, empatando e perdendo apenas por uma vez, com números arrasadores: 37 golos marcados, contra 5 golos sofridos. Um verdadeiro Inferno da Luz. Fora de casa, o cenário muda de figura: em 12 jogos, 6 vitórias, 4 derrotas e 2 empates. 23 golos marcados contra 10 golos sofridos. Sinal que esta equipa ainda precisa de crescer, dada a sua relativa juventude no onze titular e sobretudo a nível mental, comprovado em Braga e Olhão, jogos nos quais os seus jogadores se apresentaram muito vulneráveis a pressões efectuadas dentro e fora dos relvados. É aqui que reside a principal lacuna desta equipa: a capacidade de reagir a situações adversas. Esta época ainda não houve uma reviravolta no marcador, isto é, nos jogos em que o Benfica começou a perder, não conseguiu vencer: empate contra Marítimo e Olhanense, derrota em Poltava, Atenas e Braga e na Luz contra o Vitória de Guimarães. Jorge Jesus neste campo tem que mudar este triste registo, se quiser em Maio festejar o seu primeiro título como treinador dos encarnados.
Analisados que estão os resultados de Jorge Jesus no Benfica comparativamente a anos anteriores, avancemos para o seguinte parâmetro: a qualidade exibicional/táctica deste Benfica.

Apenas no lugar de lateral-esquerdo residem as maiores dúvidas: ao contrário de Maxi Pereira, titularíssimo a lateral-direito – Shaffer não convenceu Jesus e César Peixoto parece finalmente dar algumas garantias, depois de um inicio algo titubeante.
Avaçando no campo, não tenhamos dúvidas que o lugar ocupado por Javi Garcia é fulcral neste esquema: capacidade de recuperar bolas e lançar o ataque encarnado, muito forte no jogo aéreo, já marcou 3 golos através de lances de bola parada. O melhor reforço para esta época do Benfica.
Ramires também ele é uma peça importante nesta equipa, tem uma capacidade física impressionante, é capaz de percorrer muitos quilómetros e tem qualidade a nível do cruzamento, dado que ocupa a posição de médio centro a descair para a direita.
Do outro lado, o virtuosismo de Di Maria, um jogador de dupla face: a de herói, capaz de fazer jogadas de sonho – como contra o AEK na Luz – ou a de vilão, quando é expulso na primeira parte em Olhão. Não é por falta de concorrência: Coentrão tem sido adversário à altura, é o homem com mais assistências mesmo tendo sido sobretudo arma secreta, depois de em determinados jogos ter sido utilizado a lateral-esquerdo, porém não convencendo em termos defensivos.
Pablo Aimar finalmente tem mostrado este ano toda a sua qualidade futebolística, é o maestro desta equipa, é ele quem “condimenta” os jogos encarnados, com aquelas deliciosas combinações com Saviola, velho amigo desde os tempos do River. A lamentar apenas o elevado número de lesões, a sua ida á selecção argentina – justíssima, porém - pode ter sido um dos factores para tal.
Finalmente o ataque: Cardozo tem estado à altura para fazer que tem sido contratado: marcar golos. Já leva 14 para o campeonato (média de 1,076 por partida) – lidera a Bola de Prata destacado sobre Falcao, que leva 8 golos – mais 5 golos para a UEFA, em 7 partidas. Este ano tem tido a companhia do sublime Saviola, renascido depois de 2 épocas sombrias em Madrid: 14 golos em 23 jogos é uma marca impressionante para um segundo avançado.
Futebol atraente, magia, raça e determinação: este é o Benfica versão 2009/10. Um Benfica à Benfica, que se espera que em Maio tenha o seu momento de glória. Para que seja inesquecível.
Sem comentários:
Enviar um comentário