Pode dizer-se bem de Marinho Pinto?
Parece que o bastonário da Ordem dos Advogados se excedeu no habitualmente excessivo Jornal Nacional, da TVI
16:44 Terça-feira, 26 de Mai de 2009
O País impresso descobriu um novo desporto nacional: bater em Marinho Pinto. Parece que o bastonário da Ordem dos Advogados se excedeu no habitualmente excessivo Jornal Nacional, da TVI. De dedo em riste, disse de Manuela Moura Guedes em três minutos o que uma parte do País ruminava há algum tempo.
Nos dias seguintes, o habitual coro do nacional-colunismo surgiu nas habituais páginas de opinião a zurzir o homem. Que estava fora de prazo. Que não honra o cargo. Que não tem modos nem maneiras. Que envergonha a classe.
Ora, Marinho Pinto foi chamado ao programa por ter dito, entre outras coisas, que há alguns advogados e escritórios "quase especialistas" em ajudar "certo tipo de clientes" a praticar "determinado tipo de delitos", sobretudo na área económica. Uma mentira e peras, como se sabe. A senhora Moura Guedes chamou-lhe bufo. E ele bufou-lhe. Parece-me bem, não?
Acontece que o homem não tem descanso.
Num desfile diário nos jornais, alguns distintos colegas confessam-se envergonhados e reclamam a sua demissão. E até o director da Polícia Judiciária veio dizer que "ninguém o leva a sério". Se eu não soubesse ler nas entrelinhas, começava a perguntar-me como é que Marinho Pinto foi eleito.
O meu conceito de liberdade chega e sobra para Marinho Pinto e Manuela Moura Guedes. É a mesma liberdade que dá o direito de saltar a tampa ao bastonário e permite que a jornalista faça o telejornal que faz. Para o resto, como muito bem disse Vasco Pulido Valente ao DN, existem as leis.
Confesso que os modos do bastonário não me importam uma pevide. E explico porquê. Portugal está cheio de punhos de renda, padrecos, falinhas mansas, indirectas, maneirismos, subtilezas, boas maneiras e insinuações torpes de sorrisos nos lábios. É preciso um workshop para descodificar os "recados" de Cavaco, já para não falar das anedotas. E dá uma trabalheira dos diabos perceber se o PS é de esquerda ou de direita. Nem com lupa.
Os políticos portugueses tratam-se bem uns aos outros, em geral (Manuela Ferreira Leite não trata bem nem mal porque está congelada). As divergências parecem pequenos arrufos. Tudo parece ter um código. Somos todos civilizados, já viram? A meio caminho entre o corno manso e o veado de cativeiro. Bruxelas já nos formatou, essa é que é essa. Ou então andamos todos numa onda zen. É o que dá esta tendência para sermos todos mais parecidos, mais normais, mais europeus.
Eu cá sou pelo estilo Pinheiro de Azevedo, de eterna saudade.E pelos modos Marinho Pinto.No cinema, escolhi sempre João César Monteiro e detesto os unanimismos hipócritas à volta de Manoel de Oliveira (se ele soubesse o que dizem dele nas costas, não tinha feito mais nada desde o Aniki Bóbó).O comportamento desviante faz-nos falta. Mostra-nos como somos e o que somos, de facto. Como feras na selva. Deixemos a diplomacia para os diplomatas. E a etiqueta para a Bobone. Já viram a quantidade de gente civilizada que nos levou ao abismo?
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