Calculo que, quando os historiadores falarem do Homem da nossa época, lhe dêem um nome especial, talvez homo-screen. Do latim que nomeia as espécies humanas, e do inglês que designa o omnipresente ecrã. O ecrã da televisão, do computador, do PDA, do telemóvel, do GPS. Os ecrãs que se distribuem por todos os aposentos da casa e dominam os postos de trabalho, desde o do empregado de mesa ao do ministro do Governo. Não contentes com isso, transportamo-los no bolso e usamo-los nas viagens ou nos simples passeios. Decididamente, já não vivemos sem ecrãs.
Os ecrãs têm evoluído de acordo com o número de pessoas que juntam à sua volta. Desde os grandes ecrãs das salas de cinema, passando pelas televisões de família até ao computador e aos pequenos ecrãs unipessoais, eles foram reduzindo de tamanho enquanto se tornavam menos colectivos. Hoje são individuais e interactivos, e um cidadão que se preze não se vê sem o seu ecrã.
Dentro do ecrã aparecem os nossos contactos, memória e pensamentos, talvez mesmo os segredos, e ainda a informação que quisermos explorar. O ecrã já não é uma superfície branca onde se projecta um feixe de luz, mas uma janela aberta para o mundo, exterior e interior. De uma extensão dos nossos olhos, ele passou a ser uma extensão do cérebro. O que resta saber, é se o ecrã amplia realmente o cérebro, ou se o apenas o substitui, tornando-o desnecessário. Se for assim, podemos abdicar da designação sapiens.
J.L. Pio Abreu, in Destak (29.02.2008)
Sem comentários:
Enviar um comentário