N' Os Incorrigíveis têm sido feitas coisas brilhantes e parece-me uma ideia pioneira, a desbravar novos caminhos para o humor, fora do espartilho televisivo. Mas tem estado a ser também uma espécie de pornografia dos pobres - não tanto dos pobres no sentido financeiro, mas dos pobres de espírito: o ódio por vezes insano, doentio, psicótico que se destila na zona dos comentários contra os comediantes que alinharam em fazer este projecto soa, muitas vezes, ao tipo de descarga agressiva e triste que só um orgasmo - solitário, para dentro de um Kleenex - proporciona. Por questões de gosto, será sempre discutível que aquilo que o Ricardo, o Bruno, o Zé Diogo, o Herman e os convidados semanais fazem sejam pérolas. Mas parece-me não haver dúvidas que entre aqueles que assistem à rubrica há uma quantidade muito considerável de porcos.
O que fazer? Fechar a zona dos comentários? Sempre fui contra esse tipo de coisa - e gosto, neste blog, de receber a enchente de comentários positivos e negativos que todos os dias chega - mas começo a pensar que alguns projectos não deveriam ter zona de comentários. Não é por causa das críticas negativas - venham elas, se tiverem um mínimo de decência e conteúdo - é por causa dos quilos de estrume que se despejam por cima de coisas que, fazendo rir uns e outros não, deram mais trabalho a fazer do que esse estrume a ser produzido (uma vez que o insulto não é fruto de prisão de ventre, é uma dose rápida de soltura de alguém que tem as entranhas numa lástima). (...)
O mundo viveu optimamente durante anos sem zonas de comentários. Quem queria comentar escrevia cartas e mandava-as ou para as estações de televisão ou para a secção de cartas do leitor dos jornais. A mensagem continuava a chegar e a fazer doer, se fosse o caso; mas pelo menos sabia-se que quem se dava ao trabalho de escrever uma carta era alguém que: A) Sabia escrever; B) Apresentava um discurso suficientemente articulado para merecer a atenção do visado. A Internet é fabulosa, mas de repente submete o trabalho de humanos ao escrutínio, muitas vezes, de macacos.
Nuno Markl, in http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/, 06.11.2007
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