sábado, 20 de outubro de 2007

Erotismo


Segundo vários especialistas, o que faz o erotismo é a transgressão. O segredo erótico da moda feminina é ocultar e simultaneamente sugerir o que é proibido. Fruto proibido é o mais desejado.

Se a teoria estiver certa, Portugal é o país mais erótico do mundo. Há leis e proibições para todos os gostos, que toda a gente se entretém a transgredir com gozo e alarde. O fenómeno generalizou-se tanto que ficou sem graça: todos se orgulhavam de fugir aos impostos, de não pagar aos credores, de faltar ao trabalho, de chegar com atraso. Era preciso acabar com isto.

À falta de melhor, o último reduto do erotismo é a estrada. Sabe-se que as grandes velocidades são tão orgásticas quanto perigosas, mas o erotismo inofensivo pode-se cultivar a velocidades menores. Quem é que dispensa o pequeno prazer de andar a 70 à hora quando o limite é 60? Ainda por cima é inofensivo.

Claro que as autoridades já toparam o esquema. Aliás, elas também têm direito ao seu pequeno gozo erótico, em geral mais virado para a variante sádica. Assim, quando devem colocar o limite de 60, elas põem uma placa de 50. E, já se sabe, os automobilistas, que também topam as autoridades, transgridem, mas não andam a mais de 60 quilómetros. De um lado e doutro, todos ficam felizes com a sua pequena dose de perversão. O pior é para aqueles para quem a rodovia não tem nada a ver com a sexualidade.

J.L. Pio Abreu, in Destak - 19.10.2007

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